A era do “self-care burnout”: quando o autocuidado se transforma em obrigação e gera estresse

Quando o autocuidado se transforma em mais uma tarefa na agenda, o esgotamento pode substituir o bem-estar – aprenda a resgatar a leveza dessa prática.

A era do “self-care burnout”: quando o autocuidado se transforma em obrigação e gera estresse

O autocuidado tornou-se uma palavra-chave no cenário atual, sendo visto como uma prática essencial para a saúde mental e emocional. No entanto, o que deveria ser uma fonte de relaxamento e bem-estar pode acabar se tornando mais uma obrigação a ser cumprida. Essa tendência é conhecida como “self-care burnout”, ou esgotamento pelo autocuidado, onde atividades que deveriam aliviar o estresse acabam gerando ainda mais ansiedade e cobrança.

Neste artigo, vamos entender como essa inversão de propósito ocorre, por que as práticas de autocuidado estão gerando mais estresse e como retornar a uma relação mais leve e benéfica com o cuidado próprio.

O que é o self-care burnout?

O self-care burnout ocorre quando o autocuidado deixa de ser um momento de descanso e prazer e passa a ser uma tarefa a ser cumprida, como se fosse uma obrigação. As redes sociais, com suas constantes recomendações de rotinas de autocuidado e listas de práticas a serem seguidas, muitas vezes contribuem para essa pressão. O autocuidado passa a ser um objetivo, e não um processo natural, o que torna a prática cansativa e contraproducente.

Causas do self-care burnout

1. Pressão das redes sociais e comparação constante

O crescimento do autocuidado como tendência popular nas redes sociais trouxe consigo uma pressão para adotar rotinas de bem-estar. A constante comparação com outras pessoas e a busca por uma "rotina ideal de autocuidado" pode transformar o processo em uma competição, gerando frustração e ansiedade caso os resultados não sejam atingidos.

2. Excesso de expectativas e idealização do autocuidado

O autocuidado é frequentemente associado à imagem de uma vida perfeita e relaxada. No entanto, o excesso de expectativas em torno dessa prática faz com que muitos vejam o autocuidado como uma responsabilidade a ser cumprida. Essa idealização, quando não corresponde à realidade, gera uma sensação de fracasso e insatisfação, que contradiz o próprio objetivo do autocuidado.

3. Falta de flexibilidade e rotina rígida

Ao seguir práticas de autocuidado com uma rotina fixa e inflexível, o que deveria ser uma experiência agradável pode se tornar um fardo. A rigidez transforma o autocuidado em um conjunto de tarefas repetitivas e obrigatórias, dificultando a espontaneidade e o prazer, essenciais para o bem-estar emocional.

4. Enfoque excessivo em produtividade e performance

Em um mundo que valoriza a produtividade, muitos acabam incorporando o autocuidado como mais uma meta de performance. Se antes o autocuidado era uma pausa para recarregar as energias, hoje ele pode ser percebido como uma medida de produtividade pessoal. Esse enfoque acaba esvaziando o valor da prática, já que a cobrança por resultados retira o prazer e a espontaneidade do momento.

5. Esquecimento do real propósito do autocuidado

Quando o autocuidado se torna mais uma tarefa a ser concluída, ele perde o seu propósito original, que é o de cuidar da saúde mental e emocional. Muitas vezes, a obrigação de cumprir essas práticas acaba gerando ainda mais estresse, levando a um ciclo de desgaste físico e mental que se assemelha ao burnout.

Sinais de que o autocuidado está gerando mais estresse que bem-estar

Reconhecer os sinais do self-care burnout pode ser essencial para retomar o controle e transformar o autocuidado em algo prazeroso novamente. Alguns sinais comuns incluem:

  • Sensação de obrigação ao realizar atividades de autocuidado, como se fossem tarefas que “precisam” ser cumpridas.
  • Falta de prazer ou sensação de frustração ao realizar práticas que deveriam trazer relaxamento.
  • Comparação constante do próprio autocuidado com o de outras pessoas, o que gera insatisfação.
  • Cansaço emocional antes, durante ou depois das práticas de autocuidado.
  • Expectativa de resultados imediatos, como melhora instantânea do humor ou da saúde mental.

Como recuperar o prazer e a leveza nas práticas de autocuidado

1. Redefina o significado do autocuidado

Volte ao básico e pergunte-se o que realmente traz relaxamento e bem-estar para você. O autocuidado não precisa seguir padrões ou modas; ele deve ser uma prática individual e que se adapte às suas necessidades. Permita-se construir uma rotina que seja espontânea e que leve em conta suas preferências pessoais.

2. Encontre prazer nas pequenas práticas diárias

O autocuidado não precisa ser grandioso para ser efetivo. Muitas vezes, pequenas práticas, como uma caminhada curta, um momento de respiração profunda ou o hábito de escrever em um diário, podem trazer mais bem-estar que atividades complexas. Valorize esses pequenos gestos e observe como eles afetam o seu humor.

3. Permita-se a flexibilidade

Ao invés de seguir uma rotina rígida, permita-se flexibilidade e escolha suas práticas de autocuidado de acordo com o que sente necessidade no momento. Ao ouvir o seu corpo e sua mente, você evita transformar o autocuidado em uma obrigação, permitindo que ele se ajuste aos seus momentos de maior e menor necessidade.

4. Estabeleça limites com as redes sociais

Limitar o consumo de conteúdo sobre autocuidado nas redes sociais pode ajudar a reduzir a pressão e a comparação. Escolha seguir perfis que realmente inspirem e que promovam uma visão equilibrada do autocuidado, sem cobranças. Definir limites de tempo nas redes também pode ser um ato de autocuidado.

5. Celebre as práticas espontâneas

Relembre que o autocuidado não precisa ser programado ou seguir um plano. Celebrar práticas espontâneas e momentos de relaxamento ao longo do dia é uma forma saudável de cultivar o bem-estar. Lembre-se de que pequenos momentos de tranquilidade e leveza podem ser ainda mais valiosos que uma rotina extensa de autocuidado.

Como saber quando procurar ajuda profissional

Caso você perceba que o autocuidado se tornou uma fonte de estresse e que isso tem impactado negativamente sua saúde mental, pode ser útil procurar o apoio de um psicólogo. Um profissional da área de saúde mental pode ajudar a identificar e lidar com as pressões que afetam seu bem-estar e trabalhar junto a você para construir uma relação mais leve e saudável com o autocuidado. Buscar apoio profissional é uma das melhores formas de relembrar o verdadeiro propósito do autocuidado e fortalecer a saúde emocional de forma sustentável.

Transforme o autocuidado em um ato de bem-estar genuíno

O autocuidado não precisa ser algo perfeito ou seguir padrões elevados. A leveza e a liberdade de escolha são partes essenciais para que o autocuidado realmente contribua com a saúde mental. Voltar-se para as práticas que trazem prazer e bem-estar de forma natural pode ajudar a ressignificar essa experiência, trazendo de volta o prazer de cuidar de si mesmo e permitindo que o autocuidado cumpra sua função original: ser um momento de tranquilidade e recuperação emocional.